21/7/2003 - Executivo Ganha Adicional Como Juiz de Conflito

Fonte: ESTADO DE S.PAULO
Autor: Terciane Alves

Para escapar da morosidade da Justiça, empresas buscam acordos fora dos tribunais e recorrem à figura de árbitros, mediadores e conciliadores

 
Procura-se alguém ponderado, hábil em listar prós e contras, persuasivo e, acima de tudo, confiável. É improvável ver um anúncio buscando executivos com essas características. Mas quem conhece alguém assim, ou nos últimos tempos tem sido chamado à mesa para ajudar a achar uma saída para disputas, é considerado um talento raro. Essa vocação para a imparcialidade não se restringe apenas ao rótulo 'boa praça'. Rende credibilidade e também um dinheiro extra.

 
Por uma hora de trabalho, os chamados 'árbitros do meio empresarial', que atuam em júris longe dos tribunais, ganham, em média, R$ 350 por hora no Brasil. Nos últimos tempos, o campo para a função, discreta e restrita aos bastidores dos negócios, vem ganhando força por meio da legislação e da macroeconomia.

 
"Cada vez mais, as empresas recorrem à arbitragem, meio extrajudiciário de solução de conflitos previsto em lei, quando estão diante de um impasse contratual", explica a advogada Selma Maria Ferreira Lemes, coordenadora do curso LLM (master em Direito) em Arbitragem, a ser lançado pelo Ibmec Law (Centro de Estudos em Direito do Ibmec), em agosto.

 
Marc Burbridge, professor da BSP, escola que forma executivos, explica que a arbitragem nasce da ADR - Alternative Dispute Resolution, que consiste em métodos e instrumentos que vêm sendo adotados desde a década de 80 e são calcados no estudo do comportamento humano dentro das corporações. Ele, que atua como mediador para grandes corporações, explica que nos EUA a figura do mediador é mais difundida do que no Brasil.

 
No caso do árbitro, é ele quem sugere uma solução para o caso, amparado nas leis e no bom senso. O papel do mediador é conduzir, por meio do diálogo, as duas partes ao acordo, mesmo verbal.

 
Tanto Burbridge quanto Selma dizem que a demanda por árbitros é maior do que a oferta. "É uma área crescente e, sem dúvida, emergente para profissionais", diz Selma. Os especialistas lembram que o Judiciário recebe uma pilha de processos que, por ano, ultrapassam o número de 8 milhões, e que a maior negociações entre os países abre campo para a arbitragem internacional. Nos últimos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva incentivou a criação de uma Câmara de Arbitragem para o Mercosul.

 
Selma já atuou em pelo menos 20 tarefas. Foi integrante da comissão relatora da Lei de Arbitragem (9.307), promulgada em setembro de 1996. É uma entusiasta e quer formar novos profissionais para. Além de coordenar o master do Ibmec, leciona na Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, que oferece especialização. Mas não esperem dela um discurso cheio de fábulas. "Não existe o profissional da arbitragem. Existe a circunstância. Não dá para pensar em investir nela como uma profissão e ficar milionário", alerta aos mais jovens. "O sucesso depende da imparcialidade, do caráter e do bom relacionamento que se tem no mercado. Não é para qualquer um." 


Brasileiro precisa ser mais hábil no conflito direto 


A opinião é do professor Marc Burbridge, da BSP, especializado no assunto

 
Os executivos brasileiros estão preparados para muitas coisas, mas não para gerenciar conflitos. A opinião é do americano Marc Burbridge, coordenador do curso Gerenciamento de Conflitos no Ambiente Corporativo, da BSP. Amigo do americano William Ury (tido como referência no meio e que chega a cobrar US$ 400 por hora para intermediar conflitos internacionais), Burbridge alerta que falta nas salas de aulas dos MBAs - curso de pós-graduação que forma experts em administração de negócios - orientação sobre o diálogo nas negociações.

 
"O grande segredo para um diálogo produtivo é fazer perguntas boas e apurar a capacidade de ouvir. Tanto na aula quanto nas negociações que acompanho, as pessoas estão muito mais preocupadas com o que vão falar do que entender claramente o que a outra falou."

 
Segundo o professor, essa habilidade não deve ficar restrita a quem pretende atuar como árbitro ou mediador de conflitos, mas deve ser cada vez mais desenvolvida por todos os executivos.

 
No meio acadêmico, há estudos que relatam que os brasileiros conquistam estrangeiros pela facilidade de relacionamento, mas na seqüência os confundem por não falar claramente sobre o que estão em desacordo.

 
A uma platéia de 600 advogados, o presidente da Korn Ferry, Robert Wong, consultoria multinacional de recrutamento de executivos, afirmou recentemente que o diferencial mais competitivo de um profissional do ramo é a persuasão.


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